28 de mar. de 2011

QUEM NÃO AMA ZUMBI ?

Passados mais de três séculos da saga de Zumbi, na Serra da Barriga, em Alagoas, o personagem acabou virando lenda no mundo afro e objeto de permanentes homenagens. Somente o Rio de Janeiro ergueu sete monumentos em sua homenagem.


Nascido, na serra da Barriga, filho de jagas angolanos, em Alagoas, no nordeste, há 356 anos, e morto há 316, Zumbi dos Palmares, o maior líder do Quilombo dos Palmares, se tornou o herói mais louvado da militância negra carioca desde 1986 quando o então governador Leonel Brizola autorizou a construção do Monumento a Zumbi, na Avenida Presidente Vargas, ao lado da Passarela do Samba.
De lá para cá, o exemplo do Rio de Janeiro, tem motivado outras homenagens a Zumbi em outros bairros e cidades fluminenses. Assim, o bairro de Padre Miguel, na zona oeste do Rio, não ficou para trás e ergueu, no Ponto Chic, local onde se localiza a maior feira afrocarioca, um busto em homenagem a Zumbi, cuja liderança nos Palmares derrotou as tropas portuguesas durante 17 anos.

Não querendo ficar atrás das iniciativas da militância do Rio de Janeiro, o movimento negro da Baixada Fluminense resolveu dar o troco. E, dois anos depois, ergueu, em 1988, outro busto em homenagem a Zumbi, no calçadão do centro de Duque de Caxias.

Há seis anos, no entanto, o busto foi trocado por um monumento maior, onde Zumbi, de corpo inteiro, aparece segurando uma lança num pedestal, no mesmo local. Muitos militantes negros choraram no dia da inauguração do novo monumento, em Caxias.

O mais recente monumento a Zumbi foi inaugurado há três anos, na cidade de Petrópolis, de comum acordo entre os militantes e a prefeitura local, e ampliou assim para sete as homenagens em forma de artes plásticas que o poderoso chefe do Quilombo de Palmares vem recebendo do Rio de Janeiro.

No estado, existem ainda monumentos a Zumbi em São Fidelis, Volta Redonda e Búzios, coincidentemente são cidades com expressiva população afro, de forte organização negra, onde, em alguns legislaturas, são eleitos vereadores negros com compromisso em combater o racismo.

O “efeito Zumbi” ainda é grande no Brasil. Em cerca de 1.200 cidades brasileiras, o 20 de novembro- data da morte do líder quilombola em 1695 –é feriado municipal, pois, esta data é considerada Dia Nacional da Consciência Negra, estabelecida, em 1978, pela articulação de negros que gerou o Movimento Negro Unificado (MNU).

Coube ao Rio de Janeiro, no entanto, outro pioneirismo em relação a Zumbi: foi o primeiro município do país onde o 20 de novembro se transformou em feriado, em 1999, e o primeiro estado também a decretar este dia em feriado, em 2002.

Para se ter uma idéia, em 1988, ano do centenário da abolição, a militância negra organizou uma marcha de protesto contra o marketing festivo da data marcante feito pelas autoridades públicas, tendo uma frase famosa a puxar os berros contra a discriminação racial, na Avenida Presidente Vargas: “ Valeu, Zumbi”.

Segundo Décio de Freitas, em “ Palmares: a guerra dos escravos”, Zumbi teria nascido em 1655, em Palmares, filho de escravos da tribo jagas angolanas. Uma das cidades-quilombolas foi atacada por uma expedição portuguesa e seu comandante encontrou um bebê abandonado numa das cabanas. Era Zumbi.

O militar levou o bebê para Recife e cedeu-o ao convento dirigido pelo padre Melo que educou Zumbi, em diversos conhecimentos da época, mais particularmente, na religião católica, pois, o jovem negro acabou se tornando corinha das missas do padre. Estranhamente, o coroinha Francisco, aos 15 anos, fugiu do convento e retornou a Palmares, onde foi adotado pelo líder Ganga-Zumba e batizado como Zumbi. Assim, torna-se um dos mais talentosos chefes militares da resistência palmarina.

Em 1678, apenas com 23 anos, Zumbi, após divergir de Ganga-Zumba, ordena sua morte, pois o antigo líder fizera um acordo no qual Palmares deveria agora por diante se transformar numa reserva sobre controle português. Assim, com morte do tio, ele assume o poder palmarino, e durante 17 anos, enfrenta e vence as tropas portuguesas. Os nordestinos, diante dos feitos do novo rei de Palmares, dizem que Zumbi é imortal. No entanto, em 20 de novembro, traído por um dos seus auxiliares, o mulato Antonio Soares, Zumbi é morto e degolado pelos portugueses.

No entanto, depois de três séculos, o mito Zumbi é inextinguível da memória brasileira. Existem cidades, bairros, praças, ruas, prédios, aeroportos, portos, com seu nome em todo o Brasil.



LIVROS SOBRE ZUMBI E PALMARES


Poema épico, cordel, romance, programa educacional, estudos históricos, estudos antropológicos, sociologia, política. Sim, a trajetória de Zumbi dos Palmares vem merecendo diversos estudos, análises, comentários ou obras de ficção. É o personagem mais intrigante, bajulado e amado pelos negros brasileiros e estudiosos em todos os tempos. Atendendo a alguns professores e militantes, nosso jornal fez uma pesquisa sobre obras relacionadas a Zumbi. Abaixo, segue uma lista com 36 obras onde ele é personagem ou sua história serve como mote para discussão de diversas questões raciais:

1. Fonseca, Eduardo Junior. Zumbi dos Palmares: a história que não foi contada. Yorubana do Brasil, Rio de Janeiro: 2000.

2.Agualusa, José Eduardo. O ano em que Zumbi tomou o Rio. Gryphus, Rio de Janeiro: 2001.

3. Barbosa, José Carlos. Zumbi dos Palmares: o rei negro do Brasil. Imprensa, Ribeirão Preto: 2003.

4. Lima, Ray. Programa Zumbi Aracati-Ceará: uma ruptura no sistema educacional. Brasil Tropical, Fortaleza: 2004.

5. Santos, Joel Rufino dos. Zumbi. Global, São Paulo: 2006.

6. Maxado, Franklin. Rei Zumbi: o herói do Quilombo de Palmares. Edição F. Maxado, São Paulo: 1981.

7. Borges, J. História de Zumbi e os Quilombos de Palmares. Folheteria Borges, Bezerros(PE): 1985.

8. Silva, Severino da. Zumbi dos Palmares. Edições Paulinas, São Paulo: 1990.

9. Carlos, A. Zumbi: a resistência de um jovem brasileiro. Folheteria Maciel, Belo Horizonte: 1992.

10. Braz, Júlio Emílio. Zumbi: o despertar da liberdade. Memórias Futuras, Rio de Janeiro: 1995.

11. Cardoso, Marcos Antonio. Zumbi dos Palmares. Mazza, Belo Horizonte: 1995.

12. Muniz, Ubirajara. A agonia de uma raça: Zumbi, o Rei. Aquarela, Rio de Janeiro: 1991.

13. Ricon, Luiz Eduardo. Minigurps: o quilombo de Palmares. Devin, São Paulo: 1999.

14. Lúcio, Antonio Bezerra. Zumabunu: em terra arrasada ao longo do reino da liberdade. Brasília, SN: 1999.

15. Peret, Benjamin. O quilombo de Palmares. Editora da UFRGS, Porto Alegre: 2002.

16. Police, Gerard. Quilombo dos Palmares: lectures sur um marronnage braselien. Íbis Rouge Editions, 2003: Guadeloupe Guyane.

17. Funari, Pedro Paulo Abreu. Palmares, ontem e hoje. Zahar, Rio de Janeiro: 2005.

18. Gomes, Flávio dos Santos. Palmares; escravidão e liberdade no Atlântico Sul. Contexto, São Paulo: 2005.

19_____________________A hidra e os pântanos: mocambos, quilombos e comunidades de fugitivos no Brasil nos séculos XVII-XIX. Unesp, São Paulo: 2005.

20. Leal, Isa Silveira. O menino de Palmares. Brasiliense, São Paulo: 1982.

21. Freitas, Décio de. Palmares: a guerra dos escravos. Graal, Rio de Janeiro: 1981.

22. Borges, J. História de Zumbi e os quilombos de Palmares. Folheteria Borges, Recife(PE): 1985.

23. Palmares de liberdade e engenhos de escravidão (desenhos de Domingos Sávio Menezes Carneiro). Editora Paulinas, São Paulo: 1985.

24. Gomes, Antonio Carlos. Palmares em quadrinhos. R. Kempf, São Paulo: 1984.

25. Moura, Clovis. Quilombos: resistência ao escravismo. Ática, São Paulo: 1987.

26. Berto, Luiz. Nunca houve guerrilha em Palmares. Mercado Aberto, Porto Alegre: 1987.

27. Penha, Evaristo. Cazumba de Palmares(poema épico). PCS Artes Gráficas, Campos(RJ): 1988.
28. Filho, Ivan Alves. Memorial de Palmares. Xenon, Rio de Janeiro: 1988.

29. Barbosa, Osmar. Palmares: o livro que Castro Alves não publicou. The Saurus, Brasília: 1988.

30. Correya, Juarez (Organizador). Poetas dos Palmares. Fundação Casa de Cultura Hermilo Borba Filho, Palmares (Pe): 1987.

31. Dagostin, Martins. Quilombo de Palmares. Fênix, São Paulo: 1995.

32. Koury, Jussara Roche. Liberdade: o sonho de Palmares. Bagaço, Recife (PE): 1995.

33. Landmann, Jorge. Tróia negra: a saga de Palmares. Mandarim, São Paulo: 1998.

34. A vida de Zumbi dos Palmares. Fundação de Assistência ao Estudante, Brasília: 1995.

35. Bourbolkan, George Latif. A incrível e fascinante história do capitão Mouro. Casa Amarela, São Paulo: 2000.

36. Silva, Eduardo. As camélias do Leblon e a abolição da escravatura: uma investigação de história cultural. Companhia das Letras, São Paulo: 2003.



O 20 DE NOVEMBRO COMO FERIADO NACIONAL
POR CARLOS A. CACAU DE BRITO*

Em 1978, o Movimento Negro Unificado (MNU), reunido, em São Paulo, decidiu transformar o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, na serra da Barriga, em Alagoas, no Dia Nacional da Consciência Negra. De lá para cá, se passaram 32 anos.
No inicio das comemorações - entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980 -, a sociedade brasileira não entendia porque os negros clamavam pela falta de oportunidades. Também estranhava a instituição de uma data que buscava fortalecer a autoestima dos negros brasileiros. Assim, as homenagens a Zumbi ficavam restritas aos militantes
Hoje, não. O crescimento da importância da herança negra na sociedade brasileira, a discussão sobre cotas nas universidades públicas e as reflexões abertas sobre racismo, impulsionaram debates sobre a ascensão negra. Assim, em todos os estados, assistimos, na Semana da Consciência Negra - de 5 a 20 de novembro -, o próprio poder público e as diversas organizações privadas se juntando para criar festas, eventos, caminhadas e debates sobre a consciência negra.
Uma das conseqüências deste amadurecimento da sociedade brasileira foi o aumento no número de municípios que adotaram o 20 de novembro como feriado. De acordo com entidades públicas de combate ao racismo, já chegam a mais 1.200 municípios adeptos do feriado. Ou seja, a cada Semana da Consciência Negra, mais adesões são registradas e a tendência é que o 20 de novembro possa se tornar feriado nacional.
Não se trata, assim, de algo absurdo. Pelo contrário. Este feriado nacional chegará através da adesão espontânea dos dirigentes públicos que reconhecem a força e a grande mobilização que esta data provoca na comunidade negra em todos os estados.
Além disso, Zumbi dos Palmares, o grande chefe dos quilombo dos Palmares, que venceu as tropas portuguesas durante 17 anos, a cada ano, recebe muitas homenagens pelo poder público com a instalação de monumentos em sua homenagem nas praças públicas.
Assim, acreditamos, o feriado nacional se adequará com perfeita harmonia em sentido mais amplo nos desejos da sociedade brasileira.

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